Sua tradução é “comer com atenção plena”. O
mindfulness é um conjunto de práticas que nos ajudam a focar momento presente. No caso do
mindful eating o foco é no comer de forma consciente. Ou seja, preconiza que as pessoas se alimentem atentas aos sinais físicos de fome e saciedade, mantendo a conexão com o momento presente e com os sentidos nas cores, texturas, aroma e sabor de cada alimento. Mas será que estamos cultivando esse “estado de presença” na alimentação nas crianças? Existe algo nas crianças que acho encantador: é inata a sua curiosidade, sua capacidade de viver o presente, de ver, de ouvir, de sentir e de saborear. No Mindfullness, é o que chamamos de “olhar de principiante”. Viramos adultos e somos atropelados pelo stress e múltiplas tarefas, e fazemos tudo de forma mais automática. O que se percebe é que, cada vez mais cedo, as crianças estão entrando no “piloto automático” sendo influenciadas por hábitos da família, os quais não favorecem, na maioria das vezes, a consciência alimentar. Entre eles:
- Cozinhar menos em casa.
- Comer às pressas (“come rápido que estamos atrasados!”).
- Menos tempo de qualidade em família em torno da mesa.
- Distrações: Utilização de tecnologias como celular, TV, computador enquanto se come.
- Aumento do consumo de alimentos industrializados. Consumo de refeições fast-food ou de congelados.
Geralmente, os alimentos ultraprocessados (biscoitos e bolinhos de pacote, batatas chips, macarrão instantâneo, bebidas lácteas prontas) são hiperpalatáveis e demandam um tempo menor de mastigação. Assim, são consumidos em maior quantidade e mais rápido. Durante a pandemia, recebi no meu consultório queixas frequentes de crianças que aumentaram a compulsão alimentar, buscando lanches fora dos horários da rotina, e tendo preferência por snacks embalados. A angústia e o medo podem desencadear uma fome emocional. Aprender a reconhecer quando estão realmente com fome e quando não estão e a identificar quando estão saciadas não é tão simples quanto parece. Até mesmo muitos adultos têm dificuldade com isso. Sabemos que grande parte das pessoas que sofrem de transtornos alimentares comem de modo automático, sendo guiadas por sentimentos, distrações e condicionamentos que foram criados ao longo de toda a vida. Quando se sentem ansiosas, com fadiga ou entristecidas, vão direto comer algo que “acalma a alma” (a fome do coração), mas, por estarem cheias de diversos pensamentos, distrações e preocupações, acabam comendo sem atenção plena, ou seja, rapidamente e sem de fato se deliciarem com a refeição. O
mindfulness ajuda nessa consciência do corpo, o
mindful eating ajuda as crianças a se familiarizarem com suas sensações internas. Estudos mostram que as intervenções centradas no
mindfulness, mindful eating e comer intuitivo são promissoras para a abordagem do sobrepeso/obesidade e dos transtornos alimentares, especialmente no que tange ao comportamento alimentar e aos aspectos psicoemocionais. Então, como posso ajudar a cultivar a atitude do
mindful eating com as crianças e colocar isso em prática? 1 – O ambiente das refeições deve ser favorável, sem distrações como telas (tablet, tv, celular). Dê o exemplo, o adulto também não deve estar distraído com esses dispositivos. 2- Tentar fazer o máximo de refeições em família possível. 3- Respeite os sinais de saciedade da criança e não a obrigue comer contra sua vontade. Até mesmo o “aviãozinho” com a colher não é recomendado. Essas atividades que chamam a atenção da criança fazem com que comer se torne um hábito automático. 4- Tente perceber quando a criança come (ou deixa de comer) quando está entediada ou frustrada. 5 – Permita que a criança toque os alimentos e participe do seu preparo. E estimule a curiosidade da criança quanto à forma, textura, cor, cheiro, e até mesmo o som dos alimentos. 6 – Quando o bebê começar a ingerir alimentos sólidos por volta dos 6 meses, opte por práticas respeitosas, como a alimentação participativa ou BLW. Isso vai ajudá-lo a estabelecer uma relação saudável com os alimentos. 7- Convide a criança a participar das atividades culinárias como montar o próprio lanche. Quanto mais legal for a apresentação da comida e mais plena de significados a experiência do comer, mais eles terão a oportunidade de criar uma relação positiva com a comida. 8 – Na introdução alimentar, ofereça os alimentos separados no prato, e não todos batidos e misturados numa papa única. Assim, o bebê conhece uma variedade de texturas, cores, aromas e sabores. 9 – Seja exemplo. As crianças absorvem muito mais o que os pais fazem do que falam. Finalizo com uma reflexão. Estamos dando a real importância ao momento da alimentação, que além de fisiológico é social e afetivo? Estamos incentivando as crianças a estarem “presentes” na refeição, saboreando os alimentos? O
mindful eating não tem idade mínima. Quanto antes, melhor.
Autora: Bárbara Fonseca Gazzinelli Link para matéria:
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